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SOCO NO MURO: ESTAMOS DE VOLTA

 


Depois de um tempo ausente, a nossa Coluna política, literária, artística e cheia de babados dá uma de Nelson Gonçalves e volta para rever os amigos e leitores, receber críticas, sugestões e elogios, claro. “Vaidades das vaidades, tudo é vaidade”, perdonami, Signore.

Uma vez por semana vamos estar por aqui, agradecendo ao meu amigo Natan e ao seu TORDESILHAS a oportunidade de dizer o que penso sem papas na língua, como sempre fiz, faço e farei.

Hoje 2 poemas: Politicamente é do meu livro O TROGLODITA e o Salmo Divino, do livro inédito DIURNIDADE. Pra finalizar um retalho do meu livro em preparo SÃO DOMINGOS REVISITADA, o capítulo Recordando um amigo, no caso o Padre Manoel da Penha Oliveira que ligou seu nome, sua história e sua vida ao nosso município de São Domingos do Maranhão.     

 

POLITICAMENTE INCORRETO

 

Anão é anão, e pronto.

Preto é negro e negro é preto,

e preto é preto e negro é negro,

doeu em alguém falar isso?

 

Careca é careca mesmo, pouca telha,

aeroporto de mosquito,

e sodam-se com ph de farmácia.

O cara que tem barriga é barrigudo,

baleia, balofo, rolha de poço, é ou não é?

 

E o cara alto e magro é magrelo,

magricela, vara de virar tripa,

espanador do céu, está fazendo concurso

pra entrar numa garrafa

e pra passar a chuva embaixo de um fio,

“é mentira, Terta?”

 

Baixinho é anão de jardim,

tamborete, pintor de rodapé.

Viado é viado mesmo,

gay, bicha louca, qualhira e tal;              

e ladrão de gravata é ladrão igual,

é safado e marginal,

senão o poema

não sai assim

ao natural.

 

SALMO DIVINO

 

Um dia lindo!

Uma manhã de dezembro aberta aos mitos.

Nem ao sol, nem à plumagem das aves,

nem ao seu canto ficamos indiferentes.

Mesmo o olhinho de um pequeno beija-flor

brilha sorrindo.

 

É plena a tarde!

E a primavera traz seus anjos e seus ritos

de amar sem meias medidas.                  

A tudo o amor se permite com abundância,

e com leveza chama para si os olhos no alto

e as mãos em pura prece.

 

Que noite feliz!

Quão grande amor divino desce sobre a terra!

Esta vida é um êxtase e, a cada minuto,

exulta e pulsa no coração das coisas

mais divinas, que sobre nós se derramam

como cascatas de luz.

 

 

 

RECORDANDO UM AMIGO

 

Convivi com o padre Manoel da Penha Oliveira durante vários anos. Primeiro como sacristão, nos meus 12 anos de idade, viajando por todos os povoados de São Domingos, onde ele rezava missa, casava e batizava e cujos atos se chamavam desobriga.  Achava bom, pois, gozando saúde, todo menino é um pouco guloso. E o padre era muito bem tratado. As pessoas que nos hospedavam sempre faziam bolos, matavam gordos capões, faziam saborosos assados e doces variados. Era uma festa para o meu estômago.

E depois, como amigo, durante sua campanha política, e nos anos seguintes, em São Luís, onde sempre visitava-o em sua residência ou na Assembleia. E mais tarde, ao encontrá-lo aqui por São Domingos, em sua casa na Consolação, com o seu inseparável piano.

Sempre preocupado com a Educação, padre Manoel, chegando em São Domingos, deparou-se com uma triste realidade. Com exceção dos filhos da família Torres, da família Aluízio Brandão, dos filhos do meu tio e padrinho Raimundo Almeida, do senhor João Henrique, seu Álvaro Bezerra, seu Antoizinho Rodrigues, a família Cazé e mais uns poucos, a maioria dos pais não podiam custear os estudos de seus filhos fora de São Domingos.

Havíamos terminado o primário. Para que não ficássemos sem estudar, e esperando pelo milagre da providência divina, ele criou um Curso de Exame de Admissão, um curso preparatório para ingressarmos no ginásio. Era uma prática escolar àquela época. Ficamos estudando e, talvez, por que tenha notado minha inteligência e interesse pelos estudos, falou com meus pais sobre a possibilidade de mandarem-me para um seminário para seguir os seus passos, ou seja, tornar-me padre.

Imaginem. Padre Raimundo Fontenele. Só rindo. Aceitei o convite, minhas tias convenceram minha mãe a deixar-me partir e em janeiro de 1962, graças ao Padre Manoel, lá fui eu, levado pelo meu pai, o “grande” Ribinha, com destino a São Luís e lá ingressei no Seminário de Santo Antônio onde só permaneci um ano.

No fim de 1962, após um balanço da minha vida no seminário naquele ano, os padres chegaram à conclusão que eu não devia permanecer lá. Eu tinha acumulado vários pontos no quesito matérias. Fui o melhor aluno, com as notas mais altas, após uma disputa com um aluno de nome Ribamar, de Pedreiras.

Mas pesavam contra mim notas baixas no comportamento ou disciplina. Porém, nada de grave. Faltinhas, molecagens, brincadeiras, pequenas rebeldias. Tipo ficar imitando os padres, sentando na cadeira do professor, lá na frente da turma, imitando o padre dizendo a missa, etc., e, ou era flagrado por um padre, ou então sempre existem aqueles dedos-duros, fofoqueiros, o popular fuxiqueiro ou caguete, corruptela de alcaguete.

Resolveram me desligar do seminário. Mas São Domingos pertence à Diocese de Caxias, e aqui entra o caráter humanitário do Padre Manoel que, além de caxiense, era muito admirado pelo bispo dom Luiz Gonzaga Marelim, o chefe da Diocese. Pois ele conseguiu que eu tivesse uma segunda chance e, assim, fui transferido para o Seminário da Prainha, em Fortaleza.

Fosse outro, o padre Manoel simplesmente lavaria as mãos como Pilatos e eu que fosse cuidar da minha vida. Mas, não. Quando ele assumia um compromisso ia até o fim. Corresse o risco que corresse. Era um homem de caráter forte, decidido. E lutava por aquilo em que acreditava.

Enquanto isso, padre Manoel resolveu fazer da Educação em São Domingos o seu segundo grande apostolado. O primeiro era a Igreja. O segundo era a Escola. Assim, criou, num primeiro momento, a Escola Paroquial Santo Tomás de Aquino, tornando-se, cada vez mais, empenhado no desenvolvimento espiritual de seu rebanho adulto e a cuidar com zelo e amor do ensino e da educação da juventude são-dominguense.

Esta Escola Paroquial São Tomás de Aquino foi o embrião de outra, a futura Escola Pio XII, responsável pela formação de tantos jovens que se tornariam mais tarde, médicos, advogados, engenheiros, enfermeiros, enfim, ilustres cidadãos são-dominguenses.

Os nomes das Escolas: uma homenageava um dos grandes doutores da Igreja, filósofo e teólogo da maior importância no desenvolvimento e formulação da doutrina da Igreja Católica: São Tomás de Aquino que era, junto com Santo Ambrósio e Santo Agostinho, a trindade de doutores da Igreja Católica muito admirada pelos estudiosos desse ramo da religião cristã. A Escola Pio XII tomou esse nome em homenagem ao Papa Pio XII, cujo pontificado vai de 1939 até sua morte em 1958.

Entretanto, falando em Educação, em nome de escolas, não podemos esquecer o espírito, a alma, a coisa mais importante, aquilo sem o qual a Educação não existe, que são os professores e professoras.

Por isso cito aqui, pedindo desculpas pelos lapsos de memória, aqueles mestres e mestras que nunca esqueci e que construíram a base educacional de São Domingos. Sejam professoras particulares ou professores do ensino público.

Minha tia Lizeth Fontenele Almeida, dona Judith Torres, pioneiras do ensino em nosso município. Minha tia Nini, professora particular e a professora Zilda, a professora Maria Luiza Brandão, professora Edelves, as irmãs colinenses, professoras Delza e Elza, professora Olga, professora Maria Neusa, da tradicional família colinense  Moreira Lima, professora Maria do Carmo...

Engraçado que as professoras Olga e Maria Neusa, casaram com os irmãos Bento e Belchior, da família conhecida na intimidade como Zezinho. Assim eram chamados: Dudu Zezinho, irmão mais velho, político e comerciante, a Didi, o Raimundo Zezinho, de onde surgiu um fruto raro, o nosso amigo Rodolfo Rosberg. Amizade do face e da vida real, eu e ele, ambos admiradores um do outro. O Rodolfo que seguiu o ramo da medicina e que deverá ser um ótimo profissional na sua área.

A simpática e alegre professora Edelves, o dublê de caminhoneiro e professor de matemática, José Alberto, a professora Eunice Raposo, seu Zé Carlos, professor de matemática e primeiro gerente da Pernambucana em São Domingos, e sua esposa, cujo nome esqueço, ótima professora de português.

E muitas dessas professoras das décadas menos ou mais recentes e dos tempos atuais, algumas que foram minhas colegas de escola como as professoras Simplícia, Raimunda Lucena, Antônia Félix, Socorro Leite, Maria Sílvia, professora Zilma.Não posso esquecer as professoras Maria Raimunda, Rita Rios, professora Luiza, estes os nomes que me vieram à mente ao escrever estas reminiscências.

 

NA PRÓXIMA SEMANA: FINAL DO CAPÍTULO


Raimundo Fontenele é escritor com vasta produção literária no ramo da poesia. Foi um dos integrantes da Antroponáutica, movimento literário importantíssimo responsável por renovar a cena literária do Maranhão no inicio da década de 1970.

 

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1 Comentários

Unknown disse…
Fontenele cabeça de pandora.ops !é caixa , é que as vezes eu confundo, rsrsrsrs