Pã e sua flauta mágica. Naiades. Ninfas. O Fauno. 12 a 13.000 anos a.C. Contando nossa Era são quase 16.000 anos de história, de processo civilizatório, de calendário cultural. Isso tudo com provas, inscrições rupestres, a dolorosa e prodigiosa linguagem dos papiros, juntados e conservados nos locais que mais tarde (e até hoje) tomariam o nome de bibliotecas.
A famosa Biblioteca de Alexandria chegou a possuir um acervo de cerca de 800 mil registros documentais. Com o amor e a paciência dos sábios ali estava o que o espírito humano produzira até então: na música, na medicina, na literatura, nos cálculos matemáticos, dos quais se serviu Gustave Eiffel, muitos séculos depois, para planejar, criar e realizar um dos maiores monumentos da humanidade: a famosa Torre de Paris que leva o seu nome.
É famosa também, embora não seja real como a de Alexandria, a Biblioteca que está no livro e filme O Nome da Rosa, obra do escritor italiano Umberto Eco, cujo acesso era negado à grande maioria do populacho. Só uns poucos podiam frequentá-la, pois conhecimento é Poder e esse não deve ser partilhado por todos.
Até hoje muitos defendem essa tese. E nem todos que pensam assim são ditadores, nazistas, filhos da puta. Acham que o sistema democrático também permite a ascensão de crápulas e assassinos aos níveis mais altos de poder e de domínio da coisa pública.
Mas foi graças sobretudo às bibliotecas que os conquistadores puderam expandir e divulgar as várias culturas que representavam: egípcias, helênicas, macedônicas, romanas.
A Idade Média acrescentaria, a tudo isso, a confusão das trevas com a iluminação da mais pura luz do conhecimento e do espírito inventivo e criador do gênero humano. Dela descende a Renascença ou Renascimento com sua plêiade de trovadores medievais, os mais geniais pintores, a poesia tomando uma forma absoluta de linguagem transcendente, os romances de cavalaria, as quase divinais gestas. E essa época chamada de Idade das Trevas produziu todas essas luzes, o que levou o filósofo Nietzsche a dizer: “é preciso o caos para parir uma estrela”.
Aos trancos e barrancos chegamos ao Mundo Moderno. E daí, segundo cunhadores de terminologias ocas de sentido e vazias de mensagens, à Pós-Modernidade, embora para mim isso não signifique nada, e considere o termo apenas um arroto verbal. Pisar na lua, transplantar órgãos, criar um mundo virtual, a ciência e a tecnologia se unirem e erguerem uma espécie de torre de Babel, mas com linguagem única, é isso a tal pós modernidade.
Na verdade, o mundo moderno (ou pós) abandonou o saber em troca do conhecimento, diluiu todo o estudo e a profundidade dos conceitos para contentar-se com a universalidade de preceitos e práticas ideológicas que nada têm de cultural, de significativo ou relevante na construção do homem novo.
Este novo homem tornou-se coletivamente uma massa amorfa e disforme manipulada por cidadãos que detêm algum tipo de poder e nenhuma espiritualidade.
O mundo moderno foi apenas uma esperança vã onde nada deu certo. O sistema de saúde foi posto à prova na mais recente pandemia que esse mesmo sistema de saúde permitiu que se criasse, e diante dela submergiu como um náufrago que não encontra sua tábua de salvação.
A educação está entregue nas mãos de ignorantes e as universidades hoje representam somente ambientes subservientes dos desejos de governantes que mais parecem ratos em volta de um enorme e esburacado queijo.
A fronteira ilimitada do saber virtual determinou que se podia expressar uma tese filosófica, o resultado de uma pesquisa que levou décadas ou milênios para tomar forma, com apenas 150 caracteres.
Essa é a prova maior da nossa imbecilidade total, determinar que, com apenas esses caracteres, se possa expressar o que a humanidade levou milênios para conceber como conteúdo filosófico e cultural.
Caracteres cujo ato de escrevê-los dura apenas o tempo de um pum. É isso a atual humanidade e a sua cultura.
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