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(COLUNA SOCO NO MURO) Por Raimundo Fontenele

 


SOCO NO MURO: É ISSO MESMO

 

Vou estar novamente com vocês, amigos e gente que acessa o site TORDESILHAS, abrangente, que enfoca todos os assuntos palpitantes da semana, mas também dá um tempo para curtir literatura, arte e a vida.


Esta semana tem um papo sobre a Semana de Arte Moderna de 1922,tem minhas impressões sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia e a parte final do capítulo Recordando Um Amigo, do livro em preparo SÃO DOMINGOS REVISITADA.


Uma vez por semana vamos estar por aqui, agradecendo ao meu amigo Natan e ao seu TORDESILHAS a oportunidade de dizer o que penso sem papas na língua, como sempre fiz, faço e farei


POLÊMICAS À PARTE, SOU 22…


A Semana de Arte Moderna fez 100 anos dia 11 de fevereiro. Muitas referências, comentários, homenagens? Nem tanto, mestre. Vamos debitar todo fracasso, toda falta de talento e criatividade, todo insucesso e derrotas, mesmo à revelia, à tal Pandemia.

Na verdade, em nosso país, o que acabou mesmo foi a Educação, reduzida a zero, depois que a Esquerda, no poder desde a saída dos militares, impôs, na maior parte dos currículos escolares, essa sumidade de burrice e imbecilidade chamada método Paulo Freire que abriu um rombo no cerebelo da estudantada e intelectualidade brasileiras e nos legou o mal da ignorância que, a essa altura, parece não mais ter cura.

Por tudo isso, e muito mais, um jornalista e escritor de renome nacional como o Ruy Castro pode arrotar sandices tentando desqualificar um movimento como a Semana de Arte Moderna, que colocou o Brasil no mapa das transformações artístico-literárias pelas quais passava a Europa.

Do dadaísmo ao surrealismo, dos escritos que subvertiam a gramática e o verbo, as escolas literárias e o próprio pensamento, de Joyce a Marcel Duchamp, de Salvador Dalí, e de Whitman, esse aqui na América, tudo foi expansão e revolução da mente e dos conceitos.

E entre nós se revelaram homens como Graça Aranha, Oswald e Mário, que nem eram irmãos, mas eram Andrades, e Raul Bopp e Portinari, que faziam aqui o que a Europa e a América já haviam feito.

Mas, segundo o Ruy Castro, aquele movimento de 1922 deveria ter olhado para o futuro e apontado que o Brasil deveria hoje estar preso a uma camisa de força das ideologias mais nefastas que se tem notícia desde que o mundo é mundo: o nazi-fascismo.

E se o ídolo do Ruy Castro é o Lula, nem se trata de ideologia e sim de uma quadrilha de corruptos e ladrões, parasitas que sugam o suor, o fruto do trabalho e o sangue de milhões de brasileiros.

Por tudo isso, estou com a Semana de 22 e com o número 22 neste ano da graça de 2022.

         E já que estamos em ano de eleição, é o 2, é o 2, éo 2, é o 2...


NADA DE NOVO SOB O SOL 

Mais 100 anos pra serem comemorados por uns e esquecidos por outros. Exatamente em 1922 foi criada a U.R.S.S-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas,  mais uma dessas inúmeras torres de Babel que tentaram instalar ao longo da história do homem.

De 1922 a 1991 enquanto durou, a URSS transformou-se no império russo, implantando e expandindo a ideologia comunista de forma brutal e cruel, cujos maiores responsáveis foram Lênin e Stalin: o maior legado, além da escravização de povos e nações, foi o assassinato de muitos milhões de pessoas.

Trinta milhões? Quarenta? Cinquenta? Jamais saberemos o número exato dos que tombaram vítimas da ganância pelo dinheiro e de uma espécie de sofreguidão pelo poder, embora disfarcem essas enfermidades morais e homicidas como o desejo de fazer o bem da humanidade, igualar a todos em direitos, como alimentação, saúde, educação, segurança, aquele mesmo linguajar mentiroso e hipócrita com que tentam dourar a pílula e nos venderem gatos por lebres.

Estamos vivendo agora no limiar de uma nova era. Isso sempre existiu desde que o mundo é mundo. O novo realinhamento, uma nova geopolítica, que como num tabuleiro de xadrez vai mexendo suas peças e alterando o destino do jogo e de seus jogadores.

Os especialistas estão aí para analisarem os fatos e suas consequências, de forma didática e técnica. 

O destino do homem é a guerra e as conquistas. Sempre foi e sempre será. Impérios se levantam, duram, expandem-se e depois murcham, fenecem, morrem.

Putin é homem saído das fileiras da KGB, a temível polícia política da antiga União Soviética. E é um guerreiro frio, calculista, corajoso. Está no poder há trinta anos e tem ambição de refazer e expandir o império russo. Observou, negociou, se preparou e, diante da senilidade do Biden, que está transformando a grande águia americana em pombos amestrados nas mãos dos globalistas representados pelo Soros e o Bill Gates, decidiu.

Como a Ucrânia é apenas uma pedra no seu sapato de conquistador resolveu remover essa pedra e consumou a invasão.

Sabe que não dá nada. Protestos na ONU, berreiro da mídia que só pensa em lucrar com seus negócios de informação, sanções econômicas pra inglês ver, porque as transações continuarão a ser feitas, como se diz, por baixo dos panos.

Quem vai se levantar para enfrentá-lo? Macron com sua pinta de playboy alienado? O tiozinho Boris Johnson com sua peruca saída de um temporal, ou o vovô gagá que os Clinton e outros mais puseram na Casa Branca como um fantoche de sim mesmo?

Bobagem! O homem invadiu e pronto. Enquanto isso o Xi Jinping está ali do outro lado com seu possante binóculo observando a cena.

 

RECORDANDO UM AMIGO (Parte Final)

 

O ano de 1963, passei-o quase todo no Seminário da Prainha, em Fortaleza. Em outubro daquele ano fui desligado de vez do Seminário. Era muito mais rígido do que o Seminário de São Luís. Sofri muito, por ser ainda novo, filho único, longe de casa, não me sentia integrado, acho que os padres não iam com a minha cara.

Enfim, me aconselharam a sair, uma forma mais branda do que expulsão, visto que eu não havia cometido nenhuma falta grave.

Enquanto isso, o padre Manoel seguia sua vida e sua rotina em São Domingos, dedicado à Igreja e à Escola, e, principalmente, atendendo a todos, resolvendo problemas de toda sorte, confortando e consolando todos que lhe procuravam, se interessando e se integrando sempre mais à vida da nossa comunidade.

Desligado do seminário, para a igreja e para alguns padres a gente passa a ser um proscrito, uma espécie de ovelha negra que não foi capaz de se adaptar ao rebanho.

Tanto que, quando o reitor me chamou em sua sala para me comunicar a minha dispensa, já estava com minha passagem de volta comprada, mas só até Teresina. Depois eu que me virasse.

Mesmo sendo menor, havia recém completado quinze anos, naquele tempo não havia essa preocupação de juizado de menor, de não poder viajar sem acompanhamento, o certo é que dois dias depois peguei o ônibus da Empresa Expresso de Luxo, Fortaleza-Teresina, e me mandei de lá, mais ansioso de gozar a liberdade do que preocupado com a reação da família e do próprio padre Manoel.

         Naquele início dos anos sessenta na maioria das cidades nordestinas não havia esse negócio de rodoviária. Chegando em Teresina, desci do ônibus na Agência que ficava na Praça Saraiva, peguei minha maleta e saí procurando onde passar a noite.

         Numa ruazinha ali mesmo perto da Praça descobri um Hotel, coisa simples, onde ficaria hospedado. A dona chamou um empregado pra ir me mostrar o quarto, e o cara era um pretinho homossexual, maranhense de São Luís, e se mostrou disposto a conversar.

         Eu já tinha decidido que ia aproveitar um pouco a liberdade antes de chegar em casa. E perguntei pra ele sobre as novidades. Ele disse que era um show do cantor cubano BievenidoGranda, um cantor de boleros, tangos e ritmos cubanos. Por portar um grande bigode, no cartaz que anunciava seus shows, após seu nome, acrescentavam “El bigode que canta”!

         Sua música Perfume de Gardênia era um sucesso em toda a América Latina, inclusive em todo o território brasileiro. Falei para o carinha do hotel arranjar uma amiga que a gente ia assistir o show no dia seguinte. Eu pagava tudo. Tinha um pouco de dinheiro, e um relógio da marca “Hernavin”, novo em folha, que eu entreguei pra o camareiro do hotel vender para nós.

Não apenas o show, mas fiquei uns três dias aproveitando a vida e gastando a grana da venda do relógio, e quando dei um balanço vi que o dinheiro mal dava para comprar passagem até Caxias.

De Teresina pra Caxias é um pulo, e eu cheguei à Casa Paroquial na Praça São Benedito na hora do café da manhã. Os responsáveis pela paróquia eram os monsenhores Clóvis e Gilberto e, conforme disse antes, quando a gente é dispensando do seminário passa a ser olhado com outros olhos.

Fui tratado friamente pelos monsenhores, senti como se eles me dissessem “olha, a gente não tem mais nenhuma obrigação para contigo, te vira!”, pois nem para o café me convidaram.

Pedi para deixar minha maleta ali que em seguida voltaria para buscá-la, e me danei a bater pernas pelas ruas, com os pensamentos mais sombrios agora me acossando e me dando um aperto no coração. Praticamente expulso do seminário, sem saber como enfrentar pais e tios, envergonhado perante o padre Manoel, e, o pior, faminto e sem um tostão no bolso.

Naquela aflita caminhada fui parar na beira do rio Itapecuru e até pensei como seria bom se aquelas águas me levassem e acabassem com todo aquele sofrimento. Mas a fome falou mais alto.

Caminhei até a Praça do Mercado, cheia de movimento, de caminhoneiros, de gente andando apressada pra lá e pra cá. Resolvi entrar numa lanchonete e comer e depois, sem dinheiro para pagar, sair no pinote, correndo mesmo e fosse o Deus quisesse. E foi o que fiz.

Comi um pastel e uma fatia de bolo e fiquei bebericando o resto do café com leite, devagar, devagarinho, criando coragem pra pegar o embalo e correr dali e daquela situação deveras vexatória, humilhante. Nem sei direito os sentimentos que me afligiam tantos e tão diversos eram.

O certo é quando cheguei no limite do suportável, coloquei a xícara no balcão e comecei a tomar impulso pra me pírulitar dali, quando, mandado por Deus, vejo entrando na lanchonete um conhecido, amigo do meu pai, o senhor Zuca da Totonha. Ele era caminhoneiro, casado com dona Totonha irmã da dona Alvina e da dona Santana do Sebastião Mota.

         Joguei-me nos braços do seu Zuca, até alguma lágrima deve ter rolado, e lhe contei rapidamente minha situação. Ele disse que não me preocupasse, ele ia carregar o carro e depois ia para São Domingos. Nem acreditei. Salvo, eu estava salvo, meu coração agora pulava de alegria. Até esqueci que tinha caído fora do colégio e isso era mais uma bronca a enfrentar.

Ele pagou a minha despesa e disse que ia ficar ali mesmo na Praça do Mercado e eu fui à casa dos padres buscar minha maleta, saí excomungando-os mentalmente.

De volta à Praça do Mercado, encontrei seu Zuca ao lado do caminhão que estava terminando de ser carregado com produtos vários, tais como açúcar, sabão, querosene, café, óleo e outros que seriam revendidos no comércio são-dominguense.

         Almoçamos uma galinha ao molho pardo num desses restaurantes populares, depois refrigerante, cafezinho, tudo pago pelo santo homem e, em seguida, pegamos a estrada para São Domingos.

         Entrei em casa sobressaltado, mas fui logo dando a real para a minha mãe que, apesar de brava, era muito compreensiva, e me lembro que ela disse que se era para ser um padre sem vocação, quer dizer um mau sacerdote, era melhor ter saído.

E acho que ela ficava também contente em me ter perto dela, mãe a gente sabe como é, e além do mais eu era filho único, apesar de ter uma irmã de criação, registrada como filha, a Gracinha, que Deus também levou em 2014, como já levara meu pai em 1987 e minha mãe em 2011.

         Eu estava de novo sob a proteção do padre Manoel que, reconhecendo em mim alguns talentos, resolveu me dar uma terceira chance e lá estava eu sendo professor de uma turma do 2º ano primário, com trinta e seis alunos, entre os quais lembro do Clodomir, da Lúcia do senhor Genésio, da Carmen do finado Hermes, do Bodinho, não o vereador, o outro, irmão da Zizélia, como lembrar de todos? Mas foi assim que iniciei o ano de 1965, e matriculado na Escola Pio XII para continuar meus estudos ginasiais.

No meio do ano restavam apenas 12 alunos, os pais foram tirando um a um os filhos, eu era quase tão criança quanto eles, e uma vez, num dia de prova, em que eles não me obedeciam, era um converseiro sem tamanho, avancei e tomei a prova da maior parte, numas dei zero e outras rasguei e sapateei em cima.

Ali acabou a minha carreira de professor. Já havia no ano anterior encerrado a carreira de padreco. Mas o padre Manoel me tirou da sala de aula e me colocou como Secretário da Escola Paroquial Santo Tomás, onde me saí mais ou menos.

Digo mais ou menos porque nos primeiros meses tudo seguiu o seu curso normal. Eu recebia o pagamento da mensalidade dos alunos, controlava as despesas e pagava os professores.

Mas, sei lá porquê, um dos meus defeitos era ser perdulário. E assim, comecei a gastar o dinheiro da escola, com festas, garotas, amigos e bebedeira. Diabos! No final do mês o caixa não fechou e eu não tinha dinheiro para pagar os professores.

O padre Manoel viajava muito. E quando chegou de uma dessas viagens e descobriu que eu tinha sido desonesto ficou muito chateado comigo. Eu diria com raiva mesmo. E me passou uma descompostura daquelas, e merecida, por sinal.  E aí acabou a minha carreira de Secretário da Escola Paroquial Santo Tomás, pois fui destituído do cargo para o bem das finanças da Escola e dos professores.

Mas eu sempre me achei um cara de sorte. Eu não ficar desempregado por muito tempo.

Primeiro porque o padre Manoel entrou em sua campanha política e me levou para trabalhar com ele. O pouco tempo de estudo no Seminário me ajudou a desenvolver um dom natural que eu trouxera para a oratória. Fazia cada discurso que era uma beleza. Era muito aplaudido mesmo, sem nenhuma vaidade, mas também sem falsa modéstia.

E, segundo, perto do final do ano, um grande acontecimento estava chegando para marcar a vida comercial de São Domingos. Eram as Casas Pernambucanas, para onde fui viver a experiência do primeiro emprego com carteira assinada. E como sempre, apesar da sorte, eu estava sempre aprontando umas e outras, como verão a seguir.

Ainda se estava na função de abrir fardos de tecidos, arrumar nas prateleiras e tínhamos que trabalhar direto, sexta e sábado à noite. E como iam ficar as festinhas, as namoradas?

Eu era um rapazote levado. Havia ocasiões em que eu tinha três namoradas, até lembro o nome delas, uma continua casada, e outros duas casaram e enviuvaram. Acho que não se sentirão magoadas por eu revelar seus nomes. Afinal não exponho nada demais. Acho que naquele tempo o máximo de intimidade era pegar na mão. E é também uma forma de homenageá-las: Graça Sousa, Ivanda Barbosa e Eliene Matos.

Assim, inventei que estava doente no sábado à noite, pois tinha uma festa na Rua dos Cardoso e eu pretendia encontrar-me lá com a Eliene, residente no Angical e estudante em Teresina. E foi o que fiz.

Mas alguém me viu por lá, e sabem como é, sempre tem um fofoqueiro de plantão que deu o serviço para o senhor Zé Carlos, gerente da Pernambucana e disse que eu não estava doente coisíssima nenhuma, estava todo faceiro numa festinha de jovens.

Foi a conta pro gerente me dá as contas. Na segunda feira estava eu desempregado antes mesmo da inauguração da loja. Mas, aí, não sei se meu pai ou outro familiar falaram com o senhor Zé Carlos e ele relevou a minha falta e resolveu me readmitir.

Fui trabalhar no escritório e aos sábados pegava o microfone de um serviço de som e ficava junto a uns tabuleiros com tecido barato, sobras de peças, tudo vendido como liquidação.

Sem quê nem pra quê eu e a Creusa, funcionária também do escritório, num momento em que o gerente, senhor Zé Carlos, estava ausente, começamos uma disputa em torno da garrafa de cafezinho. Coisa de jovens imbecis, porque dali a coisa evoluiu, bate boca sem sentido, e ela jogou nem lembro que objeto em mim e revidei jogando nela uma régua de plástico.

Nem acertou direito, mas quando o senhor Zé Carlos apontou na porta ela se derramou num rio de lágrimas, uma ótima atriz global ela seria, até soluços ela conseguiu arrancar do seu sofrido peito. Quando o gerente se inteirou do acontecido me deu três dias de suspensão. Passou a punição, voltei ao trabalho.

Devia ser início de novembro.

O senhor Zé Carlos estava selecionando alguns funcionários para mandá-los trabalhar numa filial provisória, que seria instalada em Colinas até que passasse o dia dos Festejos da Padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, dia 8 de dezembro. Pensei comigo, estou dentro, e passei a pedir para o senhor Zé Carlos me incluir nos que iriam pra Colinas.

No escritório tinha um serviço que se fazia todo manualmente, naquelas máquinas de somar antigas, tinham até uma manivela, imaginem! Chamava-se “apurado”, uma espécie de balanço mensal.Tínhamos que conferir todas as notas fiscais: metragem de tecido vendido, valor do metro e cálculo do valor total conforme a venda.

Aí faltando uma semana pra viagem, ele me disse: “olha, se terminares este “apurado” até o fim da semana te mando pra Colinas”.

Ele achava impossível que eu terminasse o serviço. E realmente era, tanto que fiz apressado e no final não batia, ou, como se diz, não fechava o caixa. O dia do embarque se aproximando e eu enrolado, e logo tive uma “brilhante” idéia.

Fiz lançamento de uma venda imaginária, pois alguns pequenos comerciantes dos povoados compravam lá peças inteiras para revender. Foi isso que fiz. 20 metros de linho.  15 metros de tricoline branca. 25 metros de brim. 40 metros de morim. E assim foi até completar o valor necessário para fechar tudo certinho.

Na véspera da viagem, quando ninguém esperava, levantei e todo exultante e feliz falei para todos ouvirem: “Consegui, seu Zé Carlos! Viva”! E assim fiz parte da equipe que viajou pra Colinas: o Clóvis Cardoso, Neguinho do Zeza, o Walfredo e algum mais que não lembro agora.

Em Colinas estava uma beleza. Durante o dia tinha a loja e à noite a Praça da Matriz fervilhando de garotas, música, animação, leilões, missas, quermesses, afinal eram os festejos da padroeira. O Clóvis se grudou logo numa moça chamada Analice e eu comecei um namoro com uma morena linda, chamada Sebastiana que era aparentada do Zeza e tinha um irmão que era uma fera.

No melhor da festa, o Walfredo me chamou e mostrou o telegrama: era o senhor Zé Carlos me chamando de volta com toda urgência. Já fui sabendo do que se tratava e não deu outra. Tinham conferido meu serviço e descobriram a burla. E tome mais três dias de suspensão, foi o que ganhei pela minha falta tão grave.

E dessa vez a sorte me abandonou e achegou-se a mim o azar na pessoa de um Fiscal da Pernambucana, cujo nome não recordo, mas sei que era amazonense, cabelo e cara de índio, certamente descendente de um desses morubixabas.

De vez em quando os fiscais visitavam e inspecionavam as lojas. Ao ver a minha ficha, o fiscal perguntou por mim e sabendo que já era a terceira vez que eu “mijava fora do caco”, disse para o senhor Zé Carlos que o meu caso era de demissão imediata e pronto.

E pronto mesmo. Eu iria terminar o ano de 1965 desempregado, e com uma conta de cerveja um tanto alta na quitanda da dona Maria Augusta do seu Pedro Joaquim, ali na esquina em frente a Pernambucana. Além da contrariedade que causava aos meus pais, tias, enfim a minha família achava até que eu não ia mesmo dar pra nada.

Movimentado, cheio de altos e baixos, foi um ano e tanto esse 1965.  E se eu não podia contar com outros, o padre Manoel estava ali mais uma vez para me estender a mão. E passei a fazer parte da administração municipal, nomeado por ele, agora Prefeito, para o cargo de Escrivão de Polícia e fui trabalhar na Delegacia chefiada então pelo grande amigo Lourenço Vieira da Silva. Mas ali foi que a porca torceu o rabo, eu caí do cavalo e dei de cara no chão.1966 aqui vamos nós, eu e o meu São Domingos.



Raimundo Fontenele é escritor com vasta produção literária no ramo da poesia. Foi um dos integrantes da Antroponáutica, movimento literário importantíssimo responsável por renovar a cena literária do Maranhão no inicio da década de 1970.

















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