Nosso estado é reconhecido mundo afora por ser uma terra pródiga em revelar poetas, escritores e artistas das mais diversas vertentes da arte e cultura. Incluso nesse leque de talentos existem também os letristas e compositores, muitos deles espalhados por todo o Brasil e alguns em outros paises. Resolvemos separar três grandes compositores do nosso Maranhão, um tanto quanto desconhecidos de seus conterrâneos e também da grande platéia do país.
NICÊAS DRUMONT
Nicéas Drumont (Nicéas Alves Martins, nascido em 1951 no povoado Itaipu - Rosário, Maranhão), foi um cantor e compositor brasileiro. Morreu cedo, aos 39 anos.[1]
Nascido no povoado Itaipu, em Rosário - Maranhão, e vindo de uma família humilde, o rapaz desde cedo demonstrou grande habilidade no trato com as palavras, pois extraía com facilidade a musicalidade escondida por trás de versos por ele mesmo inventados. De alguma forma ele sabia que aquele dom poderia servir mais do que para animar reuniões familiares e encontro com amigos. O talento de Niceas não ficou restrito a seu povoado, a São Luís ou mesmo ao Maranhão. Buscando projetar seu nome, ele resolveu arriscar uma carreira artística fora de sua terra. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras e a consequente separação da família, embarcou rumo ao Rio de Janeiro, onde permaneceu por aproximadamente dois anos, enfrentando as dificuldades naturais e os obstáculos de quem contava apenas com o talento e com a vontade de vencer pela própria arte. Após deixar o Rio de Janeiro, o artista maranhense foi aventurar sua sorte em São Paulo, de onde conseguiu se projetar para todo o Brasil. Suas composições começaram a tocar nas rádios e ele se tornou um nome bastante requisitado por parte de diversos intérpretes que se encantavam com as apuradas letras e com as soluções melódicas do jovem compositor. [2]
Compositor de vários estilos, compôs mais de cem canções românticas que foram gravados por artistas como Sérgio Reis, Célia & Celma, Genival Lacerda, Sula Miranda, Fafá de Belém, Nando Cordel e Ângelo Máximo, além de composições de forró, a maioria lançadas por Genival Lacerda.[3]
Nicéas Drumont faleceu no dia 27/08/1990.
CECILIO NENA
Cecílio Alves Martins, melhor conhecido por Cecílio Nena, é um compositor e cantor brasileiro nascido em São Luís, Maranhão.[1] Cecílio já compôs canções que foram gravadas por Zezé di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo, Chrystian & Ralf, Sérgio Reis, Reginaldo Rossi, Genival Lacerda, etc.[2]
Algumas de suas composições são: "Temporal de Amor", "Anarrie", "Deu Medo", "Solidão por Perto" e "Boto pra Remexer".[2] Em 2004 lançou seu álbum de estreia, chamado Sim ou Não.[1]
CURY HELUY
Compositor - nasceu em Teresina,em 01/08/35 - durante uma visita que a mãe dele, então residente em São Luís e casada com um maranhense, fez a parentes piauienses. Neto de libaneses, foi criado nas ruas do Centro de São Luís e estudou na Escola Modelo e Marista. Continuou os estudos no Rio e entrou para a faculdade de Administração na UFRJ. Ingressou no Banco Central em 1967 e trocou o curso pela música. Fez carreira bancária como inspetor de câmbio das companhias aéreas estrangeiras até se aposentar, em 1996.
Foi o radialista Luiz de Carvalho, da Rádio Tupi, que entronizou Cury ao mundo da música. Carvalho e Cury eram vizinhos na rua Nascimento Silva. Nas visitas à rádio, Cury conheceu o assistente de som Cidinho Cambalhota. Os primeiros artistas que passaram a freqüentar as noitadas musicais no apartamento de Cury foram levados por Cidinho. Cassiano ainda fazia parte dos Diagonais. Raul Seixas era o líder do Rauzito e os Panteras. A dupla Leno e Lilian já fazia sucesso com Pobre menina e Devolva-me. E Jerry Adriani conseguia a gravadora para o primeiro disco de Raul Seixas.
Naquela interminável atmosfera de sarau, Cury ficou brincando de compor até gravar a primeira música. Em parceria com Carleba, baterista dos Panteras (o grupo do Raulzito), fez a letra para Viu, gravada por Adriana em 1968 em disco lançado pelo selo Equipe, de Osvaldo Cadaxo. A razão social da gravadora era Equipe Utilidades Domésticas, uma empresa criada a princípio para vender utensílios de cozinha, mas que logo abandonou essa atividade e acabou se tornando o primeiro selo independente de grande sucesso no Brasil. Viu caiu nas graças das rádios, o que se refletiu na grande quantidade de discos vendidos. Um feito para a época. Antes de Viu, Adriana fez sucesso com Anjo azul, música do também maranhense Nonato Buzar que deu título ao disco da cantora. No ano seguinte, Márcio Greyck gravou Que seria de mim sem você, outra parceria de Cury e Carleba.
Cury foi se dedicando ao violão e passou a compor sozinho. Em 1970 ele cria O que me importa, a pedido de Wanderléa, que “precisava” de uma música romântica forte para carro-chefe de um compacto simples da CBS. Ela ouviu e ficou encantada, mas o diretor da gravadora preferiu uma música de Don e Ravel. O compacto de Wanderléa não fez tanto sucesso, e logo depois ela trocou de gravadora. Dois anos depois, O que me importaentra no compacto duplo de Adriana, disco produzido por Cury para a gravadora Odeon (hoje EMI).
Uma semana antes de gravar O que me importa com Adriana, Cury recebeu um telefonema de um cara se identificando como Tim Maia. Disse que estava telefonando da casa de Adriana e que naquele momento queria conhecer o autor da música. Cury achou que era trote e desligou. Adriana ligou em seguida e confirmou a história. Na casa de Adriana, Tim Maia disse que também queria gravar a música, mas iria esperar. – Não quero prejudicar a Adriana. Primeiro ela grava, e você vai ganhar o prêmio de melhor música. E aí então eu gravarei – teria dito Tim Maia a Cury. A música, gravada com o acompanhamento de uma orquestra e o coro dos Diagonais, estourou em todas as rádios e, confirmando a profecia de Tim Maia, no final de 1972 ganhou o prêmio de melhor música do sistema Globo de rádio e TV.
Em fevereiro de 1973, Tim Maia finalmente gravou O que me importa em disco lançado pela Polydor. Embora no estúdio houvesse um produtor indicado pela gravadora, o cantor solicitou a Cury que o produzisse e orientasse na gravação dessa faixa, com relação a arranjo e interpretação. Cury pediu-lhe que fizesse um arranjo simples, e que não soltasse o vozeirão, como fazia normalmente.
Tim havia sido abandonado por uma namorada e viu sua história de amor depurada na letra da música. “O que me importa/ Essa tristeza em seu olhar/ Se o meu olhar/ Tem mais tristezas pra chorar/ Que o seu”. A versão de Tim Maia é primorosa. Cury e Tim Maia ficaram amigos. O compositor ajudou a pavimentar o caminho que deu origem à gravadora Vitória Régia e à editora Seroma (iniciais de Sebastião Rodrigues de Maia). Incentivou Tim Maia a comprar o primeiro apartamento, na rua Figueiredo de Magalhães, em Copacabana. A amizade fraquejou e pouco tempo depois Tim Maia entrou para a seita Universo em Desencanto (chegou a gravar dois LPs sobre o tema).
O que me importa ganhou versões também do Ira! e Renato Braz (esta com arranjo e violão de Dori Caymmi). Mas em 2000.
veio a consagração. Marisa Monte incluiu a
canção no CD Memórias, crônicas e declarações de amor, que vendeu quase dois milhões de cópias. A regravação rendeu um encontro entre Marisa Monte e Cury no Parque Lage (foto), no Rio, promovido pelo jornal O Globo. Os dois trocaram figurinhas, descobriram afinidades e revisitaram a história da música brasileira. “Foi um encontro maravilhoso, de descoberta mútua”, conta Cury. Havia uma curiosidade no ar. Marisa Monte queria conhecer o autor daquela música tão densa gravada anteriormente por Tim Maia.
Em 2007, O que me importa foi gravado na Itália pela diva Ornella Vanoni, aos 73 anos, com participação especial de Mario Biondi, cantor italiano de pop/jazz, que interpreta uma parte da música em português.
A composição Quem é você, gravada duas vezes por Alcione (em 1986, pela BMG, e em 1996, pela Universal) também teve momentos de glória para Cury. A versão em espanhol Quien es usted, na voz de Sandra Mihanovich, ficou por quase um ano no topo das paradas de sucesso na Argentina.
Mas o direito autoral não conseguiu irrigar por completo os planos de Cury. Poucos compositores no Brasil conseguem manter uma receita regular fruto do direito pela criação da música. O que sobra, no redemoinho das arrecadações, é a fração da fração de uma conta que inclui o intérprete, os músicos (direitos conexos), a editora, a gravadora, o ECAD, o parceiro de autoria (quando há mais de um compositor na música) e os impostos. Michael Sullivan, por exemplo, compôs música para meio mundo de cantores e bandas nos últimos 25 anos, de Tim Maia a Xuxa, da Banda Calypso a Carlinhos Brown, de Nelson Gonçalves a Ivete Sangalo. Criação de música em linha de montagem. Não por acaso, o compositor e produtor Sullivan (na maioria das vezes ao lado do parceiro Paulo Massadas) acumula a incrível marca de 50 discos de diamante, 270 de platina e 550 de ouro. Uma façanha, sem dúvida.
Parte de uma indenização que recebeu do Banco Central, em 1999, Cury investiu na montagem de um estúdio de gravação, na casa onde morava, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio. Os atrativos: a mesa inglesa Amek Hendrix, de 40 canais, que adquiriu da Som Livre, e a bateria Premier Signia Plus, com quatro tons e um surdo, criação especial do baterista do grupo Iron Maiden. Pelo estúdio passaram alguns nomes importantes da música, como Claudio Zoli, Frejat, Marcos Valle, Erasmo Carlos, Zé Ramalho, Fagner, Jorge Aragão, Arlindo Cruz e Alcione.
Mas em 2003 Cury decidiu voltar para São Luís. Manteve o estúdio em atividade ainda por dois anos enquanto tentava viabilizar projeto de festivais de música e integração de artistas maranhenses com nomes da região centro-sul do País. Obstinado, Cury ainda sonha com outro destino para a música do Maranhão. Com mil ideias na cabeça e alguns projetos debaixo do braço (tem aprovado um projeto pelo Ministério da Cultura), qual um Quixote do trópico timbira, Cury corre atrás de mecenas para materializar os seus planos.
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