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Dia das Bruxas, lendas e causos horripilantes do imaginário maranhense

Todo maranhense que se prese é iniciado desde cedo pelos mais velhos, acerca das lendas que permeiam o imaginário maranhense. Para homenagear essa tradição no Dia das Bruxas, vamos falar das três mais conhecidas lendas horripilantes do nosso estado.

A lenda de Ana Jansen e sua carruagem é a mais famosa de São Luís, por motivos não muito bem entendidos. Freud não explica e São José de Ribamar muito menos. Aliás, se Ana Jansen soubesse que um dia iria virar lenda, vaidosa e ousada como era, teria sido lenda antes de ter vivido para poder gozar dessas horas de fama que não estão ao alcance de qualquer imortal que se preze. Como se sabe, as candidatas à celebridade de hoje vivem exibindo suas grandes e pequenas vergonhas em rede nacional ao vivo, por dois míseros segundinhos de fama.

O fato é que Ana Jansen, que não era lá essas coisas de boniteza, se perpetuou bem mais do que se tivesse escrito um romance, por exemplo. Isso, embora já não desse dinheiro, na época, dava muito prestígio – pelo menos o suficiente para fazer companhia, no futuro, à estátua de algum pilantra transformado pela História em herói, no corredor soturno de algum museu.

Admitindo que ela tenha sido mortal um dia, tudo começou quando ela nasceu em São Luís, em 1787. Nessa sociedade de então, provinciana e carente, ela começou a treinar para virar lenda quando enviuvou duas vezes. Nessa época, é bom lembrar, não havia divórcio fácil, nem desquite ou amizade colorida, as mulheres se casavam para sempre e a única forma da mulher conseguir casar duas vezes era matando o marido, o que, aparentemente, não aconteceu. Melhor acreditar que os maridos, sabendo que ela estava predestinada a virar lenda, facilitaram-lhe o trabalho, inclusive deixando muito dinheiro para ela.

Ora, o fato de ter se livrado de dois maridos da forma mais segura que existe, que é o desaparecimento destes sem assassinato, faz desconfiar de que muita coisa da qual se falava a seu respeito como, por exemplo, a de que era cruel com seus escravos, não passava de inveja de mulher fofoqueira, desejosa de ter tido a mesma sorte. Inclusive, a história que se conta por aí, de que ela caminhava sobre uma trilha de escravos para não sujar os sapatos franceses quando seguia para seu sítio – que crueldade tem isso? Muito prefeito de interior faz igual ou pior hoje em dia, comprando carros importados com o dinheiro público, e pisoteando, da mesma forma, carentes e futuros cadáveres, e nem por isso deixam de ser admirados e reeleitos.

O certo é que Ana Jansen incomodava muita gente: era pobre e ficou rica, era feia e teve homem como quis e, além disso, entrou na política. Criou desafetos às pencas até que morreu para bem de todos e felicidade geral da nação ludovicense, mais ou menos em paz, em 1869.

Se esse é um resumo das peripécias de Ana Jansen quando viva imagine o que ela não fez depois de morta!

Toda quinta-feira ela pegava uma carruagem, saía do cemitério e ia rever suas diversas casas residenciais. (Tem-se de admitir que a vida no cemitério é meio enfadonha para quem trepava quando e onde queria. O estoque de pretendentes era desanimador, e ainda por cima, não havia viagra). Era justo que tivesse saudades e quisesse escapar daquela monotonia.

Intrépida como sempre, lá ia ela com um batalhão de decapitados dirigindo a carruagem e fazendo um barulho dos infernos. Decapitados? Claro, embora o povo com isso se espantasse, era natural que – depois de lidar, em vida, com certo tipo de gente – ela passasse a confiar, agora, em seres humanos sem cabeça, inclusive o cavalo que puxava a carruagem. O que prova que, ao contrário do que se dizia, era a favor da igualdade social e não via diferença, por exemplo, entre cavalos e seres humanos. Quanto ao barulho, isso só causava estranheza porque ainda não havia trios elétricos e carros de som, cujo barulho, como se sabe, é muito mais ensurdecedor e infernal.

E, foi assim que, de passeio em passeio, eternizou-se a lenda de Ana Jansen e sua carruagem que, no entanto, foi gradativamente caindo de moda e deixando a sensação de déjà vu, substituída que foi, pelos desfiles carnavalescos das escolas de samba, repletos de decapitados vivos e cavalos com cabeça, entre demônios sarados e diabas completamente nuas.

Hoje, quando ela sai para desfilar em com sua carruagem pelas ruas do centro de São Luís, ninguém se dá ao trabalho de espiá-la (preferem o forró do Arlindo, o reggae da Toca da Praia ou a Bandida). Descansando em sua sepultura, nos intervalos dos desfiles de sexta, ela pensa: “A indiferença desse pessoal não me atinge! Nenhum deles vai virar lenda !”

Nunca dê as costas para a Fonte do Ribeirão. E não apenas porque essa construção tem quatro séculos de história e é uma das principais atrações de São Luís. O problema é outro: é que lá vive uma serpente gigantesca, um ser que nasceu há séculos e passou toda sua existência dormindo. Dormindo e crescendo no Maranhão.

Há quem diga que a serpente, que pode ser vista por qualquer um que ouse entrar nas galerias subterrâneas da cidade, hoje ocupa quase toda a área abaixo do centro histórico de São Luís, que é enorme.

Segundo a boca miúda, a barriga do bicho está na altura da Igreja do Carmo, a cauda já alcançou a Igreja de São Pantaleão, enquanto a boca graúda da serpente está na Fonte do Ribeirão. O bicho é tão grande que, garantem os ludovicenses, em breve sua cauda alcançará sua boca.

Você planeja visitar a Ilha dos Lençóis, um dos paraísos inexplorados de Cururupu? Saiba que lá, nas noites de lua cheia, pode dar de cara com um touro negro entre as dunas, com olhos brilhantes e uma estrela na testa. O animal imponente é a figura de Dom Sebastião, rei português que morreu durante uma batalha contra os mouros no campo de Alcácer Quibir, no Marrocos, e desapareceu entre o areal de lá, reaparecendo encantado em terras maranhenses. Reza a lenda que quem conseguir acertar uma flecha na testa do touro fará com que o nobre desencante, para resgatar todo o seu reino (escondido debaixo das dunas da ilha), e que no ato, a ilha de São Luís vai afundar.

Fonte: Escritor José Eweton Neto, Site 360 Meridianos e O Imparcial.

Da redação.

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