Seus pais decidem que Joaquim deveria ser militar. Ele então partiu para o Rio de Janeiro e em 1843 ingressou, aos 14 anos, na Escola Real Militar, como Cadete do 1º Batalhão de Artilharia, onde foi o primeiro a obter o título de Doutor em Ciências Físicas e Matemáticas, mais tarde, aos 19 anos, com uma tese sobre Equações Diferenciais.
Pela sua saúde muito frágil e pela falta de vocação para carreira das armas, pediu permissão para trancar sua matrícula na Escola Real Militar. Não fosse a intervenção de Tiago José Salgado, parente da família, para manter “Souzinha” no Rio de Janeiro, muito provavelmente ele teria retornado ao Maranhão para ajudar o pai nos afazeres da fazenda.
A busca constante pelo conhecimento, fez com que em março de 1844, ingressasse na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, quando o intuito de investigar as ciências físico-químicas e naturais, o fez se aprofundar e sentir-se motivado pelos estudos matemáticos. Antonio Henriques Leal, amigo e conterrâneo, exalta no seu Pantheon Maranhense, as qualidades de “Souzinha”, dizendo:
“…entregou-se todo à Física, matéria de sua particular predileção. (…) começou a estudar consigo mesmo as mais complicadas operações de Álgebra. E não encontrando nelas dificuldades, quis prosseguir em seus estudos. Muniu-se então de todos os compêndios do curso do segundo ano da Academia Militar. Estudados estes, e animado por tão inesperado resultado, entrou afoito pelo Cálculo Integral e Diferencial, pela mecânica de Francoeur, pela Astronomia; e assim, quase insensivelmente e sem outro auxílio e guia que o de sua extraordinária inteligência, dentro do seu gabinete, e ao concluir o seu terceiro ano médico, já sabia tudo o quanto constituía o curso de engenharia; (…) ocupou sempre o primeiro lugar entre os mais distintos estudantes da escola de medicina, frequentada então por tantos talentos de primor!“
Em 1847, concluiu o terceiro ano do curso de medicina e renovou sua matrícula na Escola Militar. Depois de muita insistência, conseguiu autorização da direção da Escola para realizar os exames das cadeiras que faltavam para concluir seu curso. Muitos professores e os próprios colegas não acreditavam que lograria sucesso nessa empreita. Sem considerar essas opiniões, Souza se dedicou na elaboração de sua tese. Desde então, já se mostrava íntimo das equações trigonométricas, das séries, derivadas e integrais. No ano de 1848, deu início à defesa de sua tese de doutorado: “Dissertação Sobre o Modo de Indagar novos Astros sem o Auxílio das Observações Diretas”, e em 14 de outubro do mesmo ano, galgou o almejado título de Doutor em Ciências Matemáticas, primeiro título concedido pela então Escola Real Militar.
Após esse feito regressou à sua terra, muito fragilizado, mas com obstinação procurou aprender Economia Política, Línguas e Direito Constitucional, quando em julho de 1849, retornou ao Rio de Janeiro para ser Professor da Escola Real Militar. Efetuou pesquisas sobre os métodos gerais de integração, sobre a teoria dos sons e propagação nos meios elétricos. Seus trabalhos eram impressos na própria Escola Militar e alguns foram publicados na revista literária Guanabara, dentre os quais: Resolução das Equações Numéricas e Exposição Sucinta de um Método de Integrar Equações Diferenciais Parciais por Integrais Definidas.
Em 1854, motivado pelas ciências matemáticas, partiu para Europa com justificativa do governo que teria que estudar o sistema penitenciário europeu, com objetivo de melhorar a Casa de Correção da Corte, da qual era secretário; e obter informações sobre os observatórios astronômicos.Gomes de Souza se deparava com sua primeira viagem de estudos e escolheu Londres como cidade para apresentar seus trabalhos à Royal Society of London, uma das mais antigas instituições acadêmicas do planeta.
Mais a frente, viajou à Paris, onde passou a assistir aos diversos cursos de Matemática na Sorbonne, quando estabelece contatos com diversos matemáticos franceses. Frequentou as aulas de Cauchy, considerado como o maior matemático de seu tempo. Conta-se que em determinada aula, Cauchy apresentou uma equação não integralizável. “Souzinha”, franzino e desajeitado, timidamente se levantou e perguntou: – Dá licença? O auditório que acompanhava atentamente as palavras de Cauchy, passou a observar o nosso “Souzinha”, que pediu o giz e demonstrou onde, por duas vezes, o sábio Cauchy se enganara, sendo levado a concluir erroneamente pela não integralização. Impressionado, Cauchy cumprimentou o jovem brasileiro, de quem veio a se tornar então um grande amigo.
Após isso, se matricula na Faculdade de Medicina de Paris, onde obteve o grau de Doutor em 1856 e, logo mais, apresenta seus trabalhos matemáticos na Académie des Sciences de Paris.
Numa visita à Alemanha, encontrou Antônio Gonçalves Dias (1823-1864), poeta romancista maranhense, com quem debateu suas idéias sobre a coletânea poética que pretendia lançar no futuro. Negociou a publicação pela editora F.A. Brockhaus, de Leipzig, da Anthologie universelle. Choix dês meilleurs poésies lyriques de diveres nations dans lês langues originales, do livro com cerca de 950 páginas das melhores poesias no original em 17 línguas. Dentre elas, alemão, dinamarquês, espanhol, francês, grego, inglês, italiano, latim, polonês, português, russo e sueco. Além de entregar a obra intitulada “Recueil de mémoires d’Analyse e Physique Mathematiques”, que reunia todos seus trabalhos e falava sobre sua interpretação da Filosofia Geral das Matemáticas.
Quando ainda naquele país, no apogeu de sua produção científica, Gomes de Souza recebe a notícia que havia sido eleito para representar a província do Maranhão no Parlamento Brasileiro e que, deveria retornar imediatamente ao Brasil. Antes disso, seguiu para a Inglaterra e se casou com Rosa Edith, filha de um pastor anglicano, e então regressara ao Brasil, deixando a esposa de 18 anos na Inglaterra.
Em maio de 1857, é empossado deputado e em seu primeiro discurso, em junho do mesmo ano, denuncia o ex-ministro da Justiça, então deputado, José Thomaz Nabuco de Araújo (1813-1878), com as seguintes palavras:
“[…] por crime de traição por haver atentado contra o livre exercício dos poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Império, e por ter aposentado com metade dos seus vencimentos os desembargadores de Pernambuco Severo Amorim do Valle e Bernardo Rabello da Silva Pereira.“
Mesmo como político, ocupa o cargo de professor catedrático da disciplina de Cálculo Diferencial Integral. Ainda em 1857, volta à Inglaterra para buscar sua esposa Rosa. Das suas intervenções parlamentares, uma das mais interessantes ocorreu em 1860, quando discursou sobre a reforma das escolas militares. Em 1860 no Maranhão, sua esposa Rosa morre por causas desconhecidas, alegando os médicos doença típica dos trópicos. Em 1862 morre também seu filho, com o mesmo laudo.
“Souzinha”, a partir daí, tem sua saúde já frágil deteriorada. Mesmo assim, em fevereiro de 1864, casou-se novamente com uma enfermeira que o amparou em sua moléstia. Em março do mesmo ano, apresentando melhoras, viajou para a Inglaterra com objetivo de se tratar. Mas a tuberculose viria destruir rapidamente, em pleno apogeu, uma das mais brilhantes e excepcionais mentes da ciência no Brasil. Em pouco tempo, a enfermidade o transformou em farrapos. Ao perecer, Joaquim Gomes de Souza, deixou além das obras em vida, um trabalho sobre “Ciências Naturais, Sociais e Filosóficas”, o qual só faltava a introdução e a revisão.
“Souzinha” morreu em primeiro de junho de 1864. A notícia só chegou ao Brasil no dia 6 de julho de 1864, quando a Câmara prontamente suspendeu a sessão por “manifestação de pesar pelo falecimento de um vulto majestoso que não encontrará substituto, porque àquele molde não são vazados muitos homens. Era um gênio, e os gênios são raríssimos”. No dia seguinte, uma nota foi publicada no Paiz, de São Luiz: “Lamenta o Maranhão a perda de mais um filho ilustre, talvez a inteligência mais elevada que esta terra tenha produzido, o Dr. Joaquim Gomes de Souza”.
Sua produção científica é analisada e comentada nas suas notas autobiográficas mencionadas por Inocêncio Francisco da Silva em seu Dicionário bibliográfico português, 22 volumes, da imprensa Nacional, Lisboa (1853-1923). A tese de Joaquim Gomes de Souza, “Disertação Sobre o Modo de Indagar Novos Astros sem o Auxilio das Observações Directas”, foi uma obra inovadora na Astronomia, motivada pela recente descoberta de Netuno por meio de cálculos, realizada por J.J. Leverrier e J.C Adams, que após observarem irregularidades na órbita do planeta Urano, calcularam a massa e a posição do astro, confirmando seus cálculos com o uso de telescópios apontados para as coordenadas indicadas e visualizando o planeta.
O que muito ajudou “Souzinha” em seus trabalhos foram os conhecimentos assimilados da obra recém adquirida de Laplace, Le Mécanique Céleste, além de estar muito atualizado diante dos acontecimentos científicos da época. As obras de Joaquim Gomes de Souza, além de seu valor profundo, têm toda a mística por representar o verdadeiro início da pesquisa matemática no Brasil. “Dr. Souzinha”, foi o primeiro matemático brasileiro em sem sentido pleno, que foi capaz de formular novos problemas e demonstrar o meio de resolvê-los, contribuindo significativamente para a Matemática. “Souzinha” em autobiografia, comentando os Métodos Gerais de Integração afirmou:
“Amando acima de tudo as Ciências que têm por objetivo o estudo da Natureza, determinei-me a estudar Matemática, para melhor conhecê-la. Quando, porém, se começa esse estudo, pára-se a cada momento diante das dificuldades insuperáveis que o Cálculo Integral oferece. Se há, entretanto, alguma cousa verdadeiramente sedutora é o estudo desse ramo da Análise.
As dificuldades do Cálculo vencidas, podemos voltar mais particularmente nosso espírito à observação dos fenômenos da Natureza, seguros de que, se encontrarmos uma relação qualquer entre o fenômeno e a causa procurada, e outras que se podem ver e medir, será sempre possível voltar à primeira.
Meu primeiro fim foi atingido; quando, porém, vou proceder ao segundo, o de aplicar estas fórmulas e interrogar a própria Natureza, vejo-me talvez obrigado a parar! Métodos gerais de integral foram descobertos, é verdade, mas minha saúde está destruída e meu organismo consumido, o estado dos meus olhos não me permite talvez mais a me entregar às pesquisas, onde a mais profunda atenção e a perseverança mais assídua são absolutamente necessárias.
Se, porém, sou forçado a parar aqui, e não me é permitido ver desenrolar diante dos meus olhos a cena a que a minha imaginação tantas vezes tem sido lançada, terei pelo menos o prazer de ter aberto o caminho para os outros, e de saber que será permitido agora ao homem ler de uma maneira mais profunda no seio do Criador.”
O excepcional esforço de autodidatismo, vivenciado nas circunstâncias mais adversas da vida, torna Joaquim Gomes de Souza não somente o primeiro nome notável da Matemática no Brasil, mas talvez, o maior representante das Ciências Exatas desse país pelo seu pioneirismo. Seu espírito foi ousado e lutou com insistência por reconhecimento científico na Europa. A complexidade de seus domínios demonstrou o que seus curtos 35 anos de existência terrena foram capazes de produzir na busca incessante dos mais variados ramos do conhecimento. Uma figura de respeito que merece um estudo aprofundado de suas obras e contribuições para a humanidade, principalmente para o Brasil.
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